20 dezembro 2005

Le renard et la cicogne

A raposa e a cegonha. Foto do autor


Caldas da Rainha: Fábrica de Cerâmica Rafael Bordalo Pinheiro

Fábulas (1)

Compère le Renard se mit un jour en frais,
Et retint à dîner commère la Cigogne.
Le régal fut petit et sans beaucoup d'apprêts:
Le Galand, pour toute besogne,
Avait un brouet clair (il vivait chichement).
Ce brouet fut par lui servi sur une assiette:
La Cigogne au long bec n'en put attraper miette,
Et le drôle eut lapé le tout en un moment.
Pour se venger de cette tromperie,
A quelque temps de là, la Cigogne le prie.
"Volontiers, lui dit-il, car avec mes amis,
Je ne fais point cérémonie."
A l'heure dite, il courut au logis
De la Cigogne son hôtesse,
Loua très fort sa politesse,
Trouva le dîner cuit à point.
Bon appétit surtout, Renards n'en manquent point.
Il se réjouissait à l'odeur de la viande
Mise en menus morceaux, et qu'il croyait friande.
On servit, pour l'embarrasser,
En un vase à long col et d'étroite embouchure.
Le bec de la Cigogne y pouvait bien passer,
Mais le museau du Sire était d'autre mesure.
Il lui fallut à jeun retourner au logis,
Honteux comme un Renard qu'une poule aurait pris,
Serrant la queue, et portant bas l'oreille.
Trompeurs, c'est pour vous que j'écris :
Attendez-vous à la pareille.

Jean de La Fontaine

15 dezembro 2005

Objectos (4)

Olaria. Alentejo. Foto do autor

Diz

Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.

Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.

Eugénio de Andrade

14 dezembro 2005

13 dezembro 2005

Marcas (10)

Marca em porta. Lisboa. Foto do autor

(Companhia das Águas de Lisboa?)

Tudo em ti é milagre

«Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo
trazes o terramoto a assombração as conjunções fatais
e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.
(...)
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.
(...)
Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhora das tempestades.
(...)»

Manuel Alegre
Senhora das Tempestades

10 dezembro 2005

Ronde

Chanson pour faire danser en rondes les petits enfants

Grand bal sous le tamarin.
On danse et l'on tambourine.
Tout bas parlent, sans chagrin,
Mathurin à Mathurine,
Mathurine à Mathurin.
(…)
Dans le bois rôde Isengrin.
Le magister endoctrine
Un moineau pillant le grain.
Mathurin a Mathurine,
Mathurine a Mathurin.

Broutant l'herbe brin à brin,
Le lièvre a dans la narine
L'appétit du romarin,
Mathurin a Mathurine,
Mathurine a Mathurin.
(…)

Victor Hugo

Marcas (9)

Marca de pedreiro. Foto do autor

Évora: Sé

Um pouco mais

08 dezembro 2005

Um poeta da carpintaria

Así como yo siempre me pensé poeta carpintero, pienso que Rafita es poeta de la carpintería.

Trae sus herramientas envueltas en un periódico, bajo el brazo, desenrolla lo que me parecía un capítulo y toma los mangos gastados de martillos y escofinas, perdiéndose luego en la madera.

Pablo Neruda: Uma casa na areia

Um pouco mais

Marcas (8)

Azulejo. Assinatura da fábrica. Foto do autor

Fábrica Sant'Anna

Um pouco mais

06 dezembro 2005

Ajoute une ligne de ta main

Tu m'as dit si tu m'écris
Ne tape pas tout à la machine
Ajoute une ligne de ta main
Un mot un rien oh pas grand chose
Oui oui oui oui oui oui oui oui
Ma Remington est belle pourtant
Je l'aime beaucoup et travaille bien
Mon écriture est nette est claire
On voit très bien que c'est moi
qui l'ai tapée
Il y a des blancs que je suis seul à savoir faire
Vois donc l'oeil qu'à ma page
Pourtant, pour te faire plaisir j'ajoute à l'encre
Deux trois mots
Et une grosse tache d'encre
Pour que tu ne puisses pas les lire.

(Blaise Cendars)

Du Monde entier, Au Coeur du Monde, Poésie, Gallimard

Macroscópio (7)

Foto do autor

18 outubro 2005

Árvore, fogo e céu

Árvore, céu e fogo. Foto do autor

Sementeira

Fonte: http://www.atarde.com.br//fotos/11082003/mu_algodao_at.jpg
«Cresce a semente
lentamente
debaixo da terra escura.

Cresce a semente
enquanto a vida se curva no chicomo
e o grande sol de África
vem amadurecer tudo
com o seu calor enorme de revelação.

Cresce a semente
que a povoação plantou curvada
e a estrada passa ao lado
macadamizada quente e comprida
e a semente germina
lentamente no matope
imperceptível
como um caju em maturação.

E a vida curva as suas milhentas mãos
geme e chora na sina
de plantar nosso suor branco
enquanto a estrada passa ao lado
aberta e poeirenta até Gaza e mais além
camionizada e comprida.

Depois
de tanga e capulana a vida espera
espiando no céu os agoiros que vão
rebentar sobre as campinas de África
a povoação toda junta no eucalipto grande
nos corações a mamba da ansiedade.

Oh! Dia de colheita vai começar
na terra ardente do algodão!»

José Craveirinha

1955, 1.ª versão, in http://pintopc.home.cern.ch/pintopc/www/Africa/Craveirinha_j/Sementeira.htm

Branco, azul e um pouco mais

(Setúbal: Casa do Corpo Santo)

10 outubro 2005

Le Paon

En faisant la roue, cet oiseau
Dont le pennage traîne à terre,
Apparaît encore plus beau,
Mais se découvre le derrière

Apollinaire, Le Bestiaire

08 outubro 2005

É preciso

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair do porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na nossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre, O canto e as armas

05 outubro 2005

5 de Outubro


5 de Outubro. Foto do autor

(Lisboa: Rua de Campo de Ourique n.º 43)

«Pouco faltava para a uma da manhã de dia 4.
Do Centro Republicano de Santa Isabel, situado nas proximidades do Quartel de Infantaria 16, em Campo de Ourique, e onde combinara encontro com o grupo carbonário chefiado pelo civil Meireles, Machado Santos sai para cumprir a missão que lhe fora confiada.
Apenas dispõem de catorze armas.
Mesmo assim não hesitam, nem sequer esperam o quarto de hora que ainda falta para a hora combinada.
Tomam Infantaria 16, onde os sargentos tinham sido já conquistados na totalidade por Machado Santos.»
José Brandão, em http://www.vidaslusofonas.pt/machado_santos.htm

03 outubro 2005

Azulejo (9)

Azulejo. Tomar. Foto do autor

(Tomar)

Eu sou carvão

«Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.»

(José Craveirinha)

26 setembro 2005

Relógio de sol (4)

(Évora: Sé)

Eis como tudo entra de súbito pelas palavras

«Eis como tudo entra de súbito pelas palavras
A terra e o mar
As mãos e as vozes
Tua guitarra povo
O teu génio
E o teu silêncio
É de súbito um sino tocado pelo vento em todas as aldeias»

(Manuel Alegre)

13 setembro 2005

Ilusão

Seixal. Foto do autor


(Seixal. Miniatura da estação do caminho de ferro)

Brancanes

Setúbal, domingo

Meu Caro Amigo

Não demorem a sua vinda aqui porque não sabem o que os espera. Brancanes é um paraíso. Tenho um terraço sobre um vale de laranjais, com uma plateia de montes em frente. S. Luís, Palmela e outros. Excede tudo, meu amigo. Há o terraço sobre a igreja de onde se domina Setúbal e todo o Sado: é deslumbrante. Depois árvores verdadeiras e não os «fac-símiles» pistóporos e eucaliptos da mata de Cascais. Obra de frades. O Convento é enorme; na casa que habito cabia um regimento, na sala em que lhe escrevo, aloja-se uma comunidade. Venham depressa. Para vir comboio às 4,30 para voltar daqui às seis horas. Bem agora o luar, e estes terraços, estes montes à noite serão de enlouquecer.

Um abraço do seu
Ex-corde

Oliveira Martins

(Carta a Henrique de Barros Gomes, escrita em Brancanes, Setúbal)

Azulejo (7)

Azulejo. Barco. Seixal. Foto do autor

(Seixal)

12 setembro 2005

As ilhas

«Navegámos para Oriente -
A longa costa
Era de um verde espesso e sonolento

Um verde imóvel sob nenhum vento
Até à branca praia cor de rosas
Tocada pelas águas transparentes

Então surgiram as ilhas luminosas
De um azul tão puro e tão violento
Que excedia o fulgor do firmamento
Navegado por garças milagrosas

E extinguiram-se em nós memória e tempo»

Sophia: As Ilhas

10 setembro 2005

Telhado

Tavira. Telhado. Foto do autor

(Tavira)

Memória (2)

«How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, 'n' how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.»

(Bob Dylan: Blowin' in the wind. 1963)

07 setembro 2005

Memória (1)

«Ma mère m'a dit, Antoine, fais-toi couper les cheveux,
Je lui ai dit, ma mère, dans vingt ans si tu veux,
Je ne les garde pas pour me faire remarquer,
Ni parce que je trouve ça beau,
Mais parce que ça me plaît.

Oh, Yeah!»

Antoine, Élucubrations, 1966

Uma bica

Portalegre. Café Alentejano. Foto do autor

(Café Alentejano: Portalegre)

06 setembro 2005

Macroscópio (6)

Foto do autor

(Ilha do Pico: Açores)

O claro azul mediterrânico

«O branco do linho ou dos muros
do sul,
o carmim matutino,

o claro azul mediterrâneo, o limão
húmido ainda,
o laranja, o verde das oliveiras

prateado, o amarelo exausto
de glória, o violeta adormecido
da flor que lhe dá nome,

o ocre do trigo ceifado,
o negro quase
materno da terra lavrada,

é nos olhos que são ave
de ramo em ramo concertada.»

(Eugénio de Andrade)

04 setembro 2005

J'arrive où je suis étranger

Rien n'est précaire comme vivre
Rien comme être n'est passager
C'est un peu fondre comme le givre
Et pour le vent être léger
J'arrive où je suis étranger

Un jour tu passes la frontière
D'où viens-tu mais où vas-tu donc
Demain qu'importe et qu'importe hier
Le coeur change avec le chardon
Tout est sans rime ni pardon

Passe ton doigt là sur ta tempe
Touche l'enfance de tes yeux
Mieux vaut laisser basses les lampes
La nuit plus longtemps nous va mieux
C'est le grand jour qui se fait vieux

Les arbres sont beaux en automne
Mais l'enfant qu'est-il devenu
Je me regarde et je m'étonne
De ce voyageur inconnu
De son visage et ses pieds nus

Peu a peu tu te fais silence
Mais pas assez vite pourtant
Pour ne sentir ta dissemblance
Et sur le toi-même d'antan
Tomber la poussière du temps

C'est long vieillir au bout du compte
Le sable en fuit entre nos doigts
C'est comme une eau froide qui monte
C'est comme une honte qui croît
Un cuir à crier qu'on corroie

C'est long d'être un homme une chose
C'est long de renoncer à tout
Et sens-tu les métamorphoses
Qui se font au-dedans de nous
Lentement plier nos genoux

O mer amère ô mer profonde
Quelle est l'heure de tes marées
Combien faut-il d'années-secondes
A l'homme pour l'homme abjurer
Pourquoi pourquoi ces simagrées

Rien n'est précaire comme vivre
Rien comme être n'est passager
C'est un peu fondre comme le givre
Et pour le vent être léger
J'arrive où je suis étranger


(Louis Aragon)

03 setembro 2005

Marcas (4)

Cromeleque dos Almendres. Foto do autor

(Cromeleque dos Almendres: Évora)

Um pouco mais

Jour de fête aux environs de Paris

«Midi chauffe et sème la mousse;
Les champs sont pleins de tambourins;
On voit dans une lueur douce
Des groupes vagues et sereins.

Là-bas, à l'horizon, poudroie
Le vieux donjon de saint Louis;
Le soleil dans toute sa joie
Accable les champs éblouis.

L'air brûlant fait, sous ses haleines
Sans murmures et sans échos,
Luire en la fournaise des plaines
La braise des coquelicots.

Les brebis paissent inégales;
Le jour est splendide et dormant;
Presque pas d'ombre; les cigales
Chantent sous le bleu flamboiement.

Voilà les avoines rentrées.
Trêve au travail. Amis, du vin!
Des larges tonnes éventrées
Sort l'éclat de rire divin.

Le buveur chancelle à la table
Qui boite fraternellement.
L'ivrogne se sent véritable;
Il oublie, ô clair firmament,

Tout, la ligne droite, la gêne,
La loi, le gendarme, l'effroi,
L'ordre; et l'échalas de Surène
Raille le poteau de l'octroi.

L'âne broute, vieux philosophe;
L'oreille est longue, l'âne en rit,
Peu troublé d'un excès d'étoffe,
Et content si le pré fleurit.

Les enfants courent par volée.
Clichy montre, honneur aux anciens!
Sa grande muraille étoilée
Par la mitraille des Prussiens.

La charrette roule et cahote;
Paris élève au loin sa voix,
Noir chiffonnier qui dans sa hotte
Porte le sombre tas des rois.

On voit au loin les cheminées
Et les dômes d'azur voilés;
Des filles passent, couronnées
De joie et de fleurs, dans les blés.»

(Victor Hugo)

Império

Évora. Templo de Diana. Foto do autor

(Évora: Templo de Diana)

02 setembro 2005

Quand donc finira la semaine

«Vous y dansiez petite fille
Y danserez-vous mère-grand
C'est la maclotte qui sautille
Toute les cloches sonneront
Quand donc reviendrez-vous Marie

Les masques sont silencieux
Et la musique est si lointaine
Qu'elle semble venir des cieux
Oui je veux vous aimer mais vous aimer à peine
Et mon mal est délicieux

Les brebis s'en vont dans la neige
Flocons de laine et ceux d'argent
Des soldats passent et que n'ai-je
Un cœur à moi ce cœur changeant
Changeant et puis encor que sais-je

Sais-je où s'en iront tes cheveux
Crépus comme mer qui moutonne
Sais-je où s'en iront tes cheveux
Et tes mains feuilles de l'automne
Que jonchent aussi nos aveux

Je passais au bord de la Seine
Un livre ancien sous le bras
Le fleuve est pareil à ma peine
Il s'écoule et ne tarit pas
Quand donc finira la semaine»

(Apollinaire: Alcools)

31 agosto 2005

Vê gigantes? São gigantes.

D. Quixote. Pablo Picasso «Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandescente.

Inútil seguir vizinhos,
que ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.»


(António Gedeão, Impressão digital, em Poesias Completas)

Relógio de sol (1)

Relógio de sol. Foto do autor
(Óbidos)

29 agosto 2005

Antonio Torres Heredia

Antonio Torres Heredia,
hijo y nieto de Camborios,
con una vara de mimbre
va a Sevilla a ver los toros.
Moreno de verde luna
anda despacio y garboso.
Sus empavonados bucles
le brillan entre los ojos.
A la mitad del camino
cortó limones redondos,
y los fue tirando al agua
hasta que la puso de oro.
Y a la mitad del camino,
bajo las ramas de un olmo,
guardia civil caminera
lo llevó codo con codo.

El día se va despacio,
la tarde colgada a un hombro,
dando una larga torera
sobre el mar y los arroyos.
Las aceitunas aguardan
la noche de capricornio
y una corta brisa, ecuestre,
salta los montes de plomo.
Antonio Torres Heredia,
hijo y nieto de Camborios,
vienes sin vara de mimbre
entre los cinco tricornios.

(Federico Garcia Lorca)

Azulejo (6)

Azulejos. Foto do autor

(Vila Franca de Xira: Estação de caminhos de ferro)